Um fenômeno preocupante tem ganhado destaque no cenário global da saúde: o aumento expressivo dos casos de câncer entre adultos jovens, muitos deles sem histórico familiar da doença. Estudos recentes indicam que, ao contrário do que se pensava até pouco tempo, o câncer não é mais uma condição predominantemente ligada à idade avançada.
De acordo com uma pesquisa publicada na revista BMJ Oncology, a incidência de câncer em pessoas com menos de 50 anos aumentou 79% entre 1990 e 2019. O número de mortes nessa faixa etária também subiu 28%. O estudo analisou 29 tipos de câncer em 204 países e acendeu um alerta entre especialistas.
Outro levantamento, desta vez publicado na The Lancet Public Health, apontou que as taxas de 17 tipos de câncer vêm aumentando entre gerações nos Estados Unidos — especialmente entre membros da Geração X e os millennials. A American Cancer Society também divulgou que o câncer de mama entre mulheres brancas com menos de 50 anos cresce a uma taxa de 1,4% ao ano, o dobro da taxa observada em mulheres mais velhas.
Além do câncer de mama, tipos como colorretal, nasofaríngeo e gástrico também têm se tornado mais frequentes entre os jovens adultos, gerando grande preocupação entre oncologistas.
Múltiplas Causas em Investigação
Enquanto fatores genéticos — como as mutações BRCA1 e BRCA2 — continuam sendo considerados, os pesquisadores estão expandindo o foco para causas ambientais e de estilo de vida.
Segundo os estudos, hábitos alimentares inadequados, obesidade, consumo de álcool, tabagismo e o aumento no uso de alimentos ultraprocessados estão entre os principais suspeitos. A exposição prolongada à luz artificial e o trabalho noturno, que podem desregular o ciclo circadiano e os níveis de melatonina, também são apontados como potenciais fatores de risco.
Outras hipóteses levantadas incluem:
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Exposição a microplásticos, que podem danificar a mucosa intestinal;
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Perturbações no microbioma intestinal causadas por antibióticos;
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Aditivos alimentares ultraprocessados, como emulsificantes e corantes;
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Aumento da altura média da população, que pode elevar o risco de certos tipos de câncer.
Apesar dessas descobertas, especialistas alertam que nenhum fator isolado explica completamente o crescimento dos casos.
Mudança de Paradigma no Diagnóstico
O aumento da incidência entre jovens levou entidades como a Union for International Cancer Control (UICC) a fazer um apelo aos médicos para que fiquem atentos a sinais de câncer em pacientes mais jovens. Sintomas comuns, como dor abdominal persistente ou alterações intestinais, muitas vezes são subestimados por não coincidirem com o perfil típico de risco.
“Essas são pessoas no auge da vida, começando famílias, com tudo para viver. Um diagnóstico de câncer choca a eles e seus entes queridos”, afirma um dos especialistas citados na publicação.
Com o cenário em rápida transformação, a comunidade médica reforça a necessidade de diagnóstico precoce, acesso à informação e promoção de hábitos de vida mais saudáveis — ações consideradas essenciais para frear essa preocupante tendência mundial.
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